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O POP é a música que nos une, reflete e reiventa

  • Foto do escritor: Maria Eduarda Freitas
    Maria Eduarda Freitas
  • 5 de mai.
  • 15 min de leitura

Atualizado: 7 de mai.

Por: Sarah Pereira Alves, Natanne Pabline e Maria Eduarda Freitas



Popular, pop, povo - três palavras que dançam entre si como acordes de uma trilha sonora coletiva. Mais que um estilo musical, o pop é uma linguagem sensível, estética, midiática e afetiva que reflete os anseios, tensões e o vislumbre do futuro de uma sociedade em constante transformação. Surgiu como uma vertente da música popular no século XX, ele rapidamente ultrapassou fronteiras culturais e geográficas, consolidando-se como uma das expressões artísticas mais influentes da contemporaneidade.

O termo “pop” — abreviação de “popular” — emerge no contexto da expansão e experimentação industrial cultural e do consumo de massa, especialmente a partir dos anos 1950, mas diferentemente de outros estilos, o pop não se encaixa em moldes: ele é fluido, multifacetado e essencialmente global. Seus alicerces advêm de uma miscelânea de influências: o rock and roll, o rhythm and blues, o soul, o folk, e, mais tarde, a música eletrônica, o hip-hop e até sonoridades regionais. 

O pop é o som do imponderável, onde passado e futuro se entrelaçam no ritmo do agora. Ele é um território de disputa, onde se travam batalhas por visibilidade e pertencimento. É uma manifestação social que pulsa nas pistas de dança e nas redes sociais, nas ruas e nos palcos, nos fones de ouvido e nos afetos partilhados.

Nesse movimento incessante de reinvenção, alimenta-se de encontros e trocas. Como aponta o antropólogo argentino Néstor García Canclini (2004), vivemos hoje em um mundo intercultural, não apenas multicultural. Se o multiculturalismo ainda insiste em manter as diferenças separadas sob o pretexto do respeito, a interculturalidade propõe a mistura, o diálogo, o novo que nasce do entrelaçamento. O pop é a materialização estética dessa mestiçagem: ele carrega as marcas da tradição, vanguarda e da modernidade.

Ao se apropriar de elementos locais e globais, o pop torna-se uma estética viva, um campo em que a cultura de massa se encontra com a arte, a política e a emoção. No Brasil, isso se traduz em fusões com os gêneros: MPB, funk, brega, axé, samba, forró, eletrônica, hip hop, rap, rock e o sertanejo universitário — criando versões autênticas que ressoam com as vivências e os sonhos do povo, carregando as marcas do território brasileiro.

E em Uberlândia, ele pulsa com a força criativa da banda Sala 7 — um exemplo de como o pop, mesmo em cenários independentes, continua sendo reinvenção, resistência e expressão coletiva.

É por isso que, ao perguntar “o que é o pop?”, talvez estejamos também perguntando: quem somos nós, enquanto sociedade? O que consumimos? O que sentimos? O que projetamos no amanhã?


O som que vem da Sala 7: entre risos, acordes e resistência


A Universidade Federal de Uberlândia (UFU) é um espaço de efervescência cultural, onde a universidade pública cumpre seu papel como difusora de cultura e catalisadora de novas formas de expressão. É nesse ambiente que surge a banda cover, fruto do entrelaçamento de diversas referências sociais e musicais, refletindo um processo contínuo de interculturalidade.


Foto: Divulgação / Instagram da Banda Sala 7
Foto: Divulgação / Instagram da Banda Sala 7

O nome da banda Sala 7 é literal: foi ali, naquela sala da UFU (no bloco 3M), que tudo começou. Paulo (baterista), Antonella (vocalista), Dante (guitarrista e baixista), Clara (guitarrista, vocalista auxiliar, violonista), Savio (pianista e tecladista) e Carlos (baixista) — seis artistas, seis caminhos que se cruzam como acordes em uma mesma harmonia.

Paulo, o baterista, revela as funções e subfunções dos membros: “Cada um aqui tem uma subfunção, além de tocar e cantar, faz outras coisas dentro da banda. Tem quem vende, tem quem cuida do Instagram, tem quem faz as compras de que a banda necessita, tem quem vê lugar, tem quem leva equipamento. Então, se nós estamos aqui hoje ensaiando, é porque a gente tem um show que alguém vendeu, alguém fez arte, alguém fez alguma coisa. É como uma empresa, mas com muito afeto”. Ele ressalta a importância da gestão de pessoas para que haja essa harmonia entre os integrantes da banda e nas relações interpessoais.  

Eles não se apresentam apenas — eles criam seus próprios palcos e oportunidades. “Cansamos de ser música de fundo em bar”, conta Paulo. “Decidimos: vamos ser a atração principal. Se a gente não tem as oportunidades, vamos criá-las”. Foi assim que o grupo organizou seus eventos, enfrentando um mercado dominado por sertanejo, pagode e rock em Uberlândia e região, bem como os desafios com a escassez de espaços que comportem seis integrantes, e os inúmeros instrumentos e equipamentos que utilizam para fazer seus shows.

Sobre os motivos de tocar e fazer música pop, observa-se a importância do pop na democratização da cultura: “Nós facilitamos o acesso à performance ao vivo dessas músicas, porque eu acredito, não sei se os colegas concordam, mas uma coisa é você escutar no fone de ouvido, no seu telefone, mas você ver uma banda ao vivo tocando as músicas tem uma pegada diferente”, diz Paulo. "POP é um estilo que se ouve no mundo todo, né? E a gente, numa cidade no interior de Minas Gerais, tocar isso é um negócio bem fora da casa. Você espera um negócio desse no Rio de Janeiro, São Paulo, BH", responde Savio. E mais: "O pop é democrático", diz Paulo.


A poética do cotidiano: o que o pop nos faz sentir


No coração da Sala 7, a emoção pulsa como batida de fundo. Mais do que reproduzir hits conhecidos, a banda entende o pop como um gesto de afeto — um encontro entre memória, sensibilidade e surpresa. A cada canção, emerge a possibilidade de provocar o inesperado no público, como descreve Paulo, ao relatar a reação das pessoas nos shows: “Quando começamos a tocar uma música e alguém no público diz ‘não acredito que eles vão tocar essa!’, é mágico”. Ao performar músicas que marcaram a juventude de muitos, a Sala 7 não apenas entretém, mas desperta pertencimento — aquela sensação rara de ‘essa música me entende’. 

Antonella, vocalista que migrou da MPB para o pop, descreve sua experiência com o estilo: “Eu consumia, mas nunca me imaginei cantando. Hoje, me vejo no pop, na Sala 7”. Para Savio, tecladista da banda, a questão não está no virtuosismo, mas na sensibilidade do gesto musical. O que importa não é a complexidade da harmonia, mas o instante em que uma nota, um olhar, uma virada de bateria tocam o outro. “É o detalhe. É o olhar”, resume.

É impossível citar o pop sem mencionar seu impacto emocional. O poder da música em formar memórias, tocar o coração e impactar a construção da identidade de milhares de pessoas é incomparável. O pop tem esse poder quase mágico de conectar, de fazer com que ouvintes se sintam vistos, ouvidos e, principalmente, amados. Quando uma canção de Lady Gaga ou Taylor Swift toca, não é apenas uma melodia que preenche o espaço. É a voz de alguém que já viveu aquilo que você sente, e que conseguiu traduzir em uma letra, uma batida ou uma performance.

A magia do pop é que ele não se limita ao palco. Ele invade casas, festas, carros e corações. É a música da vida cotidiana, o ressoar da alma em um mundo muitas vezes caótico.

Esse entendimento da música como expressão cotidiana dialoga com Raymond Williams (2011), que vê a cultura como prática social enraizada nas condições materiais da vida. Para ele, a cultura não é apenas superestrutura, mas algo vivido nas rotinas, afetos e disputas simbólicas do dia a dia. A Sala 7 incorpora essa perspectiva: seus shows são experiências que articulam emoção, escuta sensível e conexão com o contexto social, refletindo uma prática cultural profunda, como propõe Williams com base na teoria da hegemonia de Gramsci.

Nos shows, o repertório é escolhido pensando nessa poética cotidiana: do pop dançante ao romântico, da canção nostálgica à provocadora, há uma costura emocional que se atualiza a cada apresentação. O que se ouve não é apenas a reprodução de músicas conhecidas, mas a reinvenção de vivências coletivas em forma de som. O pop, nesse sentido, é mais que estilo: é tradução sensível de nossos dias, memórias e vivências.


Pop, juventude e transformação social


A banda Sala 7 é mais que música. É proposta cultural. “Nosso público é jovem. Queremos que eles saibam: ‘vocês também têm um lugar na cultura’”, afirma Carlos. “Estamos criando essa cena”.

Paulo complementa: “O pop acende e apaga rápido. Por isso, temos que ter timing. Se uma música viraliza no TikTok e no Spotify, a gente tem que saber aproveitá-la, mas, mais do que seguir a onda, a gente quer criar marés”.

Por trás das luzes, há estratégia. Técnica. Gestão. “Nosso show é espetáculo. Figurino, iluminação, roteiro. É uma entrega de sentidos, não só de sons”, diz Paulo.


Quando o pop vira palco: a história de um espetáculo


Nada resume melhor a Sala 7 do que seu primeiro show independente que estreou no Cineteatro Nininha Rocha. Cortinas pesadas, mãos tremendo, a roldana girando devagar. “Parecia que o portal do inferno estava se abrindo, mas era o nosso palco”, lembra Paulo. “Ali, entendemos: temos algo potente nas mãos.”


Primeiro show independente da Banda Sala 7 no Cineteatro Nininha Rocha, em Uberlândia (MG). Foto: Divulgação / Instagram da Banda Sala 7
Primeiro show independente da Banda Sala 7 no Cineteatro Nininha Rocha, em Uberlândia (MG). Foto: Divulgação / Instagram da Banda Sala 7

Foi ali que o pop provou ser mais do que estilo. Foi ali que a juventude de Uberlândia viu que também pode ser protagonista. “A gente se emocionou, e o público também”, diz Paulo.


Sala 7: uma banda, uma ideia, um legado


O futuro da Sala 7 é incerto, mas intenso. “Talvez a formação mude, talvez a banda acabe um dia”, reflete Antonella. “Mas, enquanto durar, vai ser entrega total.”

Cada membro carrega sonhos paralelos: projetos autorais, outras bandas, produções independentes, mas a Sala 7 permanece como símbolo de uma geração que ousa fazer diferente. Antonella, por exemplo, tem uma música autoral no Spotify, “Awaken”.

Como resume Clara: “Nós não queremos só tocar. A gente quer fazer o público sentir. E se sentir parte.” 


Conheça os integrantes da banda Sala 7


Antonella Jordão - Estudante do curso de música na UFU. Artista solo e vocalista da banda Sala 7. Foto: Divulgação/Instagram de  @antonella_jordao por: @g.cecato
Antonella Jordão - Estudante do curso de música na UFU. Artista solo e vocalista da banda Sala 7. Foto: Divulgação/Instagram de  @antonella_jordao por: @g.cecato

Savio Melo - Estudante do curso de música na UFU. Pianista e tecladista da Sala 7. Foto: Divulgação/Instagram de @musical.golden
Savio Melo - Estudante do curso de música na UFU. Pianista e tecladista da Sala 7. Foto: Divulgação/Instagram de @musical.golden

Paulo Roberto - Estudante do Curso de música na UFU. Baterista da Sala 7 e chefe de naipe tamborim da bateria da UFU (artilharia). Foto: Divulgação/Instagram de  @sala7_band
Paulo Roberto - Estudante do Curso de música na UFU. Baterista da Sala 7 e chefe de naipe tamborim da bateria da UFU (artilharia). Foto: Divulgação/Instagram de  @sala7_band

Carlos Limaverde - Estudante do curso de música na UFU. Professor de violão, guitarra, baixo e bateria. Baixista da banda Sala 7. Foto: Divulgação/Instagram de @cadulimaverde
Carlos Limaverde - Estudante do curso de música na UFU. Professor de violão, guitarra, baixo e bateria. Baixista da banda Sala 7. Foto: Divulgação/Instagram de @cadulimaverde

Clara Alves - Estudante do curso de música na UFU. Guitarrista da Sala 7. Foto: Divulgação/Instagram de @sala7_band por: @njfotos_
Clara Alves - Estudante do curso de música na UFU. Guitarrista da Sala 7. Foto: Divulgação/Instagram de @sala7_band por: @njfotos_

Dante Bambozzi - Estudante do curso de música na UFU. Guitarrista e baixista da Sala 7. Foto: Divulgação / Instagram de @dantebambozzi Por: @njfoto_
Dante Bambozzi - Estudante do curso de música na UFU. Guitarrista e baixista da Sala 7. Foto: Divulgação / Instagram de @dantebambozzi Por: @njfoto_

As origens do pop: uma dança entre décadas


O pop não nasceu pronto — ele surgiu como uma metamorfose sonora, um sussurro coletivo que atravessou décadas até se tornar o grito vibrante de uma geração. Suas raízes se criara nos anos 1950, quando Elvis Presley dava voz ao desejo juvenil por liberdade, cruzando o country com o R&B, dava ao rock uma nova cara, incendiando os palcos com sua rebeldia coreografada. Era o nascimento de um som que expressava inconformismo e identidade.

Nos anos 1960, os Beatles transformaram o gênero em manifesto geracional, misturando letras simples com experimentações sonoras e estética visual marcante, compuseram sucessos atemporais. Com eles, a juventude passou a se vestir, sonhar e amar ao som de “Hey Jude” e “Let it Be”. Na década seguinte, artistas como Elton John e ABBA elevaram o espetáculo com figurinos teatrais e melodias grudentas, transformando-se em hinos globais. O rádio e a televisão potencializavam a expansão desse som contagiante — e o pop deixava de ser apenas ouvido: passava a ser visto. 

Foi nos anos 1980, porém, que o gênero se consagrou como fenômeno planetário. A chegada da MTV reinventou o modo de consumir música, promovendo o videoclipe. E Michael Jackson, intitulado o Rei do Pop, foi uma das figuras centrais dessa revolução cultural. Com o lançamento de “Thriller (1982), ele não apenas quebrou paradigmas comerciais — o álbum se tornou o mais vendido da história, ultrapassando 70 milhões de cópias. O videoclipe da faixa-título, dirigido por John Landis, foi um divisor de águas: introduziu elementos cinematográficos, narrativa elaborada e coreografias que se tornaram icônicas.

Depois de 40 anos, ‘Thriller’ segue sendo celebrado por seu impacto cultural. Em 2022, uma edição comemorativa chamada “Thriller 40” foi lançada, reunindo o álbum original remasterizado e gravações inéditas da época. No ano seguinte, o documentário “Thriller 40”, dirigido por Nelson George, estreou com o intuito de revisitar os bastidores da criação desse marco da cultura pop, reafirmando o legado de Jackson como visionário e símbolo de uma era.

Madonna, por sua vez, coroada mundialmente como a Rainha do Pop, entendeu o pop como expressão de ruptura. Sua arte foi resistência e provocação, ora sensual, ora contestadora, sempre reinventando os próprios limites — e os nossos. Sua figura virou manifesto, do icônico sutiã de cone criado por Jean-Paul Gaultier à turnê “Blond Ambition”, que transformou o show pop em espetáculo multimídia e feminista. Ao longo das décadas, ela não só rompeu padrões de comportamento, como também abriu espaço para debates sobre identidade, direitos LGBTQIAPN+ e da luta pela igualdade de gênero. Junto deles, nomes como Prince, Whitney Houston e Cyndi Lauper ampliaram os contornos do estilo com ousadia e autenticidade.

Em 2024, Madonna realizou um show histórico em Copacabana, no Rio de Janeiro, reunindo mais de um milhão e meio de pessoas na praia. A apresentação gratuita, parte da celebração de seus 40 anos de carreira, selou sua conexão com o público brasileiro e reafirmou sua vitalidade como artista. 

O pop, então, expandia-se como linguagem global. E, com a virada do milênio, ele se desdobrou em múltiplas faces, refletindo os anseios de uma nova era. 

A sonoridade se tornou uma paisagem sensível onde diferentes formas de ser e sentir se projetam — em telas, fones e corpos ao redor do planeta. Se antes o pop dependia da MTV como palco para os ícones, agora, é a internet quem dita o ritmo, transformando plataformas de streaming em altares da popularidade. Os algoritmos, hoje, ditam as ‘bolhas sociais’. O pop tornou-se onipresente.

Lady Gaga como a encarnação viva dessa revolução, seguiu o legado de Madonna. Unindo crítica social e moda, ela transformou o palco em galeria performática e a cultura de massa em provocação. Sua chegada abalou as estruturas da indústria ao propor que o estranho, o político e o ‘grotesco’ também são pop. Em 3 de maio de 2025, fez um show histórico na Praia de Copacabana — gratuito, monumental, aguardado por milhões de “little monsters”, tal qual foi feito por Madonna no ano passado. O evento marcou não apenas o lançamento de seu novo álbum “Mayhem”, mas também seu renascimento como “Mother Monster, conhecida por ser desruptiva, ousada e do dark pop que alavancou sua carreira nos anos 2000 a 2010. Gaga também é fundadora da Born This Way Foundation, organização dedicada à saúde mental e ao compromisso com os jovens marginalizados. Para mais informações sobre o show, acesse o site do G1 ou do GSHOW.

Beyoncé, por sua vez, remodelou o cenário pop. Seus álbuns, como “Lemonade”, celebram a negritude, o feminino, a ancestralidade. Durante sua “Renaissance Tour”, o Brasil se fez presente: um dos figurinos foi assinado por Patrícia Bonaldi, estilista uberlandense, símbolo de como o pop também é tecido à mão. Beyoncé dita moda, movimento e narrativa.

 Shakira, uma artista colombiana, rompeu as barreiras linguísticas, conquistou o mundo com sua fusão única de rock e ritmos caribenhos. Ela é considerada uma das maiores artistas pop latinas pela revista Billboard, que a elogiou por sua capacidade de se reinventar e permanecer ativa por quatro décadas. Com hits em espanhol e inglês, como “Hips Don’t Lie” e “Whenever, Wherever” mostram que o pop pode ser bilíngue, ritmado e dançante sem perder profundidade. 

Conectando o pop ao rock alternativo, Imagine Dragons constrói um som grandioso e cinematográfico. Faixas como “Radioactive” e “Believer” misturam densidade emocional com explosões sonoras, conquistando milhões de ouvintes ao redor do mundo. Além disso, a banda está profundamente entrelaçada à cultura pop contemporânea: suas músicas e videoclipes integram-se a atrilhas sonoras de séries, filmes e jogos — como Arcane (do universo League of Legends) e Assassin’s Creed Origins —, reforçando o papel do pop como linguagem que permeia diferentes plataformas e formas. Imagine Dragons ilustra como o gênero pode ser ponte entre estilos e mídias, absorvendo influências e transcendendo limites, suas faixas habitam o imaginário de uma geração entre crises e catarse.

Nos anos 2000, o pop assumiu novos contornos com Britney Spears, Katy Perry e Rihanna, cada uma a sua maneira, tornando-se símbolos de um novo milênio. Britney foi a encarnação da adolescente moldada pela indústria, mas também da mulher que resistiu à sua própria objetificação, foi o espírito teen de uma geração. Katy, com seus clipes coloridos e letras provocativas, representou um pop lúdico e libertador, enquanto Rihanna fluiu entre gêneros, criando um império que transcendia a música, moda e empoderamento. Esses nomes não apenas acompanharam seu tempo: eles o definiram, criando uma memória coletiva em forma de música.

Na atualidade, Billie Eilish é a introspecção do agora. Sua estética sombria e os vocais suaves rompem com os padrões tradicionais das divas pop. Ela canta para uma juventude ansiosa e frenética, que se reconhece na vulnerabilidade que Eilish expõe com sinceridade brutal. Com temas como depressão, solidão e autoimagem, representa o silêncio que também é pop, o sussurro íntimo de uma geração cronicamente online, mas muitas vezes só.

Ao lado dela, artistas como Charli XCX — "mãe" do hyperpop e das sonoridades futuristas —, Olivia Rodrigo — que retoma o drama do pop adolescente, —, Chappell Roan — que une teatralidade queer à liberdade criativa — e Sabrina Carpenter — ícone da geração TikTok com influências disco-pop — consolidam uma nova era: menos sobre fórmulas, mais sobre autenticidade, experimentação e pertencimento desta forma, emergem como voz da Geração Z.

Taylor Swift é outra arquiteta musical dessa nova era pop. Sua migração do country ao mainstream foi tão fluida quanto estratégica. Ela redefiniu sua sonoridade e identidade pública, combinando refrões pegajosos à autenticidade emocional que sempre a caracterizou. Hoje, com milhões de fãs e turnês multimilionárias, Swift não é apenas um fenômeno comercial, mas um caso raro de artista que cresceu com seu público sem perder a essência autoral. Cada fase sua é um novo capítulo de sua história e da cultura pop.

O cenário atual mostra que o pop é mais do que tendência: é transformação em estado puro. Uma tela em branco onde cada artista pinta com sua cor, cada geração escreve seu refrão e seu hit. A trilha sonora de um mundo em constante reinvenção.


A influência do pop internacional no cenário do pop nacional


No Brasil, a consolidação do pop como gênero musical ganhou força a partir da década de 1980, período marcado pela redemocratização e por uma intensa abertura cultural. Nesse contexto, a cultura pop internacional não apagou as expressões locais, mas dialogou com elas, criando formas híbridas de produção musical. Foi nesse cenário que artistas como Rita Lee, Lulu Santos e Legião Urbana passaram a representar uma estética pop nacional. Rita, por exemplo, fundiu a irreverência do rock com uma atitude tropicalista e feminista, traduzindo em sua obra uma liberdade estética e política. Lulu incorporou as batidas eletrônicas e o espírito dançante das rádios internacionais para o cotidiano brasileiro com letras urbanas e acessíveis. Já a Legião Urbana usou o formato pop para vocalizar angústias coletivas e questões sociais de uma juventude que buscava novos horizontes num país em transição.

Nos anos 2000, nomes como Vanessa da Mata, Pitty, Jota Quest e Skank contribuíram para diversificar ainda mais o cenário. Vanessa, com raízes na MPB e sonoridades afro-brasileiras; Pitty misturou rock com uma estética pop acessível, especialmente entre jovens. As bandas Skank e Jota Quest incorporaram referências do dance-rock, do reggae e do rock, criando um som popular com sotaque mineiro.

A partir da segunda década do século XXI, o pop brasileiro entrou em uma nova fase, impulsionado pelas plataformas digitais e por artistas que transformaram o gênero em palco para diversidade, identidade e crítica social.

Anitta é um dos maiores nomes do pop brasileiro contemporâneo e uma das poucas artistas nacionais a conquistar reconhecimento global. Ela quebrou barreiras, tornando-se a primeira brasileira a vencer o American Music Awards e a alcançar o Top 10 global do Spotify com hits como “Envolver”. Em 2025, lançou o documentário “Larissa: The Other Side of Anitta”, que se destacou entre as produções mais assistidas da Netflix. Sua colaboração com The Weeknd na faixa “São Paulo”, parte do álbum “Hurry Up Tomorrow”, consolidou ainda mais sua presença internacional, ao figurar entre as mais tocadas nos Estados Unidos, Canadá e Reino Unido, além de estrear nas principais paradas brasileiras. Anitta representa um Brasil moderno, plural e ousado, levando o pop nacional a novas fronteiras e abrindo caminhos para outros artistas latinos no cenário mundial.

Pabllo Vittar e Gloria Groove (Daniel Garcia) expandiram ainda mais esses limites, inserindo á cena mainstream corpos dissidentes, estética drag, voz queer e letras que reconfiguram o lugar da cultura LGBTQIAPN+ na música popular. Iza, com sua voz potente e presença estética elegante, transita entre o soul, o R&B e o pop, promovendo discursos de empoderamento racial e feminino. Ludmilla, por sua vez, é uma das vozes mais consistentes da fusão entre funk, pagode e pop, com uma produção que valoriza a vivência periférica e negra.

Luísa Sonza explora o pop como expressão performática e emocional, reinventando sua imagem constantemente em meio a críticas e elogios. Marina Sena mistura o pop com o tropicalismo e a psicodelia mineira, criando uma sonoridade única e poética. Jaloo representa a cena paraense e amazônica com um pop eletrônico alternativo e futurista. Duda Beat canta o amor com melancolia dançante, traduzindo as dores da geração hiperconectada. Carol Biazin, com seu vocal versátil e composições sensíveis, desponta como uma das novas promessas do pop brasileiro com potência autoral. Essas artistas não apenas absorvem influências internacionais, como reinventam o cenário musical brasileiro. É o que Janotti Jr. (2011) chama de “música popular midiática”, uma criação musical que, mesmo inserida no circuito massivo, carrega potências de crítica, identidade e transformação cultural.

Nesse mesmo compasso, a banda cover Sala 7, de Uberlândia, representa o vigor criativo do pop independente universitário. Ao unir o pop alternativo, rock e R&B com referências regionais e experiências afetivas vividas no interior mineiro. A vocalista Antonella, por exemplo, traz em sua construção artística a influência de nomes como Billie Eilish e Adele. A proposta da banda não é de "imitação", mas de ressignificação: traduzir o pop como linguagem sensível, viva e enraizada no cotidiano.

Em Uberlândia, onde o circuito musical é historicamente dominado pelo sertanejo e pelo rock, a Sala 7 desafia a lógica hegemônica ao criar um espaço alternativo para o pop. Assim, o grupo não apenas incorpora a influência internacional, mas a transforma em linguagem local e plural. Seus shows, repertórios e performances são interculturais, híbridos e "brasileiros".

O pop, mais do que um gênero musical, é um espaço onde todas as vozes podem ecoar.



Referências:

CANCLINI, Néstor García. Culturas híbridas: estratégias para entrar e sair da modernidade. 3. ed. São Paulo: Edusp, 2003.

JANOTTI JÚNIOR, Jeder Silveira. Música popular midiática: comunicação e indústria cultural. In: Revista Famecos, v. 18, n. 1, p. 17–25, 2011. 

WILLIAMS, Raymond. Cultura e materialismo. São Paulo: Unesp, 2011.

G1. Lady Gaga no Rio: o que se sabe sobre o show em Copacabana. G1, 16 de abr. 2025. Disponível em: https://g1.globo.com. Acesso em: 2 maio 2025. 

GSHOW. Esquenta gshow Lady Gaga: você sabe por que a cantora é chamada de Mother Monster? GSHOW, 28 de abr. de 2025. Disponível em: https://gshow.globo.com. Acesso em: 2 maio 2025.

BORN THIS WAY FOUNDATION. Born This Way Foundation. Disponível em: https://bornthisway.foundation/. Acesso em: 2 maio 2025.

JORDÃO, Antonella. Awaken. Spotify, 2025. Disponível em: https://open.spotify.com/intl-pt/track/18pgc4lF55LVAR4vJdNrrx. Acesso em: 2 maio 2025.


















 
 
 

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